O Pornographo - um blog que não sai do corpo (fund. 2005)
[171] O despacho que Faure não assinou
A Humanidade tem progredido por causa do ditado "primeiro o dever, depois o prazer", ou noutra versão, "primeiro a obrigação, depois o alívio da tensão". Ora porque esta ideia parece a todos muito avisada, e com muita razão por si, todas as pessoas se lhe submetem de bom grado, mesmo quando a acumulação dos deveres atira os folguedos para calendas improváveis.
Todas? Nem todas! Naquele dia 16 de Fevereiro de 1899, há exactamente 110 anos, Félix Faure, que presidia ao destino da França, preferiu entregar-se aos braços - ou, ao que parece, à boca: dele escreveu, deliciosamente, Clémenceau: "Il a voulu vivre César, il est mort Pompée" - de uma jovem
fille de joie, em vez de se entediar com o expediente.
Esse bravo Gaulês, que vivia certamente sob o adágio "as que se dão, ninguém no-las tira", percebeu que
aquilo era muito mais importante do que maçar-se com correspondência. Há sempre alguém que poderá aborrecer-se por nós (como de facto deve ter ocorrido com o seu sucessor), mas um broche é intransmissível.
De certa maneira, Faure deu a vida por uma ideia. Saibamos tirar daí os ensinamentos devidos e dediquemo-nos ao dever sempre que o prazer o permita.
[170] Manual de pornosofia (fragmentos)
"(...) A operatividade do
deslocamento enquanto dispositivo pornosófico mostra-se à evidência no seguinte exemplo: tratando-se de protagonistas humanos, a posição vulgarmente designada por
canzana é muito apreciada pelos pornófilos, provavelmente em virtude da remissão para um registo de animalidade; todavia, e não menos curiosamente, ao porno-zoófilo quase aborrece a posição canzana na interacção humano-animal; a cena rara e procurada é a do vetusto missionário, tanto nas combinações mulher-cão (cavalo, bode, tamanduá, etc.), como nas combinações homem-cadela (cabra, tamanduá-fêmea, etc., égua é mais difícil) (...)".
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