O Pornographo - um blog que não sai do corpo (fund. 2005)
[107] Enfim, FÉRIAS!
É sempre com inultrapassável ansiedade que espero pelo dia 31 de Julho. Férias!
Grande parte do povo desaparece das ruas, e com ele uma vasta maioria de chatos. "Tiram" férias da realidade (sobre o tira-e-mete das férias, clicar
aqui) e eu tiro férias deles.
Ocupo dois lugares nos cinemas.
Compro o jornal às horas que me apetece, sem risco de se esgotar.
Travo conversas enriquecedoras e improváveis com os empregados dos restaurantes (ao jantar ainda há o prato do dia).
Pilho impunemente as figueiras que vou referenciando ao longo do ano.
Experimento, sem pressas, o écran de plasma e o Laphroaig dos vizinhos que me pediram, encarecidamente, o favor de lhes ficar com as chaves de casa, "para o caso de acontecer alguma coisa" (comigo, acontece sempre
alguma coisa todas as noites; hoje vai acontecer-me o visionamento de um clássico,
Assquake, aproveitando o sistema de
sensurround que já adaptei para o efeito).
Se quisesse, até podia ir de carro para o escritório.
Tenho
tempo.
Posso ser pequeno-burguês trabalhador dependente, mas neste dia concedo-me a altivez: ide ide, que bem precisais dessa regalia operário-estudantil.
[106] Retrete de bits
Hey
Mr. Spammer! This is a post for your shit only! Please drop
all your bloodyfuckingstinking spam here, will you? Thanksalot, e saúdinha.
[105] Da água com melão (título propositadamente nojento)
Já deveis andar admirados de eu ainda não ter reflectido sobre a publicidade da Pedras Salgadas - Melão (sim, aquela com a cena da senhora na praia, a fazer oscilações de seios ao ritmo daquele jogo perigosíssimo - atenção homens: nunca jogar aquilo com os braços para baixo, e eu sei do que falo - cujo nome não me ocorre).
Pois bem: digo-vos que o anúncio é muito adequado ao produto. Ambos são símbolos de uma sociedade que teima em dissipar os seus valores e prejudicar a sua tradição. A Água das Pedras é (era?) uma instituição vetusta e respeitável, e não pode ser senão gasosa, sulfurosa e salgada. Tem por única missão apaziguar o estômago e ressuscitar o epitélio da língua nas manhãs de vista enevoada. E fazer arrotar a lampreia, sendo época dela.
Quebrando-se esta lei de bronze, e
inquinando-a com sabor a frutos (neste caso, uma dupla infelicidade, pois todos sabem que a água está para o melão como o leite para o camarão), não admira que surjam os trocadilhos
pénibles de mamas e melões. Já agora, por que não um filminho com a Bibi Andersson com duas cápsulas de Pedras Salgadas - Melão a ocultar-lhe os mamilos? Hã? Ou, em versão pós-moderna, um outdoor com uma fotografia de uma garrafa de Pedras Salgadas - Melão ao lado de um tubinho
destes?
As Pedras Salgadas não podem ter outra publicidade que não a apresentação da garrafa, em seu verde perverso e com seu rótulo antiquado. Ou, quando muito, um diálogo surrealista entre dois homens que vêm de um festim de torresmos ("Que horas são? São Pedras Salgadas em ponto!").
De positivo, portanto, só essa consistência entre a imagem e o produto. Assim ninguém compra ao engano. Nisso as águas são muito boas: sempre admirei a frontalidade da horrível Carvalhelhos, que tem mais gás que matéria, a fazer-se representar por um ancião inglês.
[104] E vós? Já celebrastes o Ano Mozart nos vossos blogs?
No
Sem Pénis, Nem Inveja, a Tati apresenta
uma lei sobre a distribuição geográfica do palavrão em Portugal, que pode talvez enunciar-se assim: o peso do palavrão aumenta na razão directa da latitude onde se encontra quem o pronuncia.
Pergunto-vos eu: de acordo com essa lei, em que local do País se implantaria
O Pornographo?
Eis uma boa ocasião para homenagear o divino W. Amadeus: qual Tamino estremunhado, angustio-me:
wo bin ich?
[103] Dragonfly out in the sun, you know what I mean / Butterflies all having fun, you know what I mean
A Engenheira foi hoje de férias.
Para mim, que permaneço aqui, a dicotomia trabalho-emprego extrema-se de forma ainda mais radical.
[102] A pornographia de rua: variações sobre os "olhinhos piçalheiros"
Neste segundo fôlego de O Pornographo, gostaria de introduzir um conceito que tem sido muito subprezado: a
pornographia de rua.
Sei que muitos de vós ainda não completaram o seu processo de emancipação pornographica, por razões várias. Eu compreendo. Vindes aqui, com um meio-sorriso, em busca do que julgais ser a elaboração intelectual da pornographia, procurando esquecer o facto de que sou apenas um pobre contabilista com um interesse particular. Tudo o que deveis resolver com o vosso terapeuta, mas sois sempre bem vindos, porque neste blog não se julga ninguém, exceptuando quem aprecia mamas silicónicas.
Pelas mesmas razões, frequentais, às escondidas d@ cônjuge ou d@ chefe, sites "eróticos", quiçá pornographicos, e requisitais vídeos para adultos, no clube do bairro, com o cartão da vossa sogra. Em verdade vos digo: não vos violenteis.
Há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec. 3:1), e enquanto não vos sentirdes confortáveis com o espírito pornographico, dai passinhos pequenos.
A pornographia de rua é muito estimável e atraente. Requer apenas sensibilidade e despertamento. Conto-vos mais um pouco da minha história, um episódio rigorosamente verdadeiro.
A primeira vez que fui sozinho à praça comprar peixe, já lá vão mais de duas décadas, pedi umas sardas para fazer de
vinaigrette (um dia dou-vos a receita). A peixeira era uma peixeira-peixeira, daquelas em vias de extinção, nos seus 50 anos, e quando me atendeu bradou bem alto, para as colegas e para quem a quis ouvir: "Ai que olhinhos piçalheiros...! Ai se eu tivesse 20 anos...". Foi nessa altura que me confirmei na ideia, já suspeitada, que o meu destino pornographico estava traçado. Nunca tinha ouvido o vocábulo "piçalheiros" e logo aí percebi que havia um vasto mundo à minha espera. "Olhinhos piçalheiros" é, como diria
Pacheco Pereira (mesmo o verdadeiro),
todo um programa. Corei, engasguei-me, ia-me esquecendo das sardas, etc. Percebi também o fascínio que uma roupa preta pode exercer sobre o sexo masculino.
Assumimos um destino pornographico quando trazemos à consciência as marcas que estes episódios deixam. Hoje, compro peixe num hipermercado que também tem uma peixeira-peixeira, tipo saída de um filme bdsm rodado na Bulgária: pequenina, magrota, arrapazada, provavelmente um pequeno alfobre de DSTs, radiante na sua
beautiful ugliness. Um dia disse-me, com um
regard (no sentido foucaultiano) inesquecível: "tem de abrir bem o saco, que é para eu poder enfiar o peixe no meio". Eu, foi como se visse um lince na Serra da Malcata. A máquina do tempo disparou-me até aos "olhinhos piçalheiros" e tive de me segurar para não meter a cabeça na banca de gelo, entre a xaputa e o linguado.
Por isso estais a ver: se precisardes, começai por estar despertos para a pornographia de rua que vos envolve. Aproveitai a época de saldos, e ide às lojas de roupa feminina, a partir das 6 da tarde, quando elas já têm 10 horas de peregrinação comprativa em cima, e aspirai todo o ar que puderdes perto das cabines de prova. O resto virá naturalmente.
[101] Se o seu blog fosse pirateado
Antes que passe a oportunidade, interrompo as celebrações para responder à pergunta do
Anarca: se
O Pornographo fosse pirateado, fingiriam que o pornographo é
este, exortando
o seu público.
[100] !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Os mais atentos terão reparado que do post [91] saltámos, abruptamente, para o post [100]. Não, não é obra de piratas informáticos. É porque achei que o 100 era um número digno para atribuir ao post onde se celebra...
O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO PORNOGRAPHO!
De tão emocionado que estou, nem quero dizer mais nada, senão agradecer àqueles sem os quais tudo isto seria possível, mas com muito menos graça:
- à
Veronica Hart, que primeiramente me entusiasmou pelo estudo da pornographia;
- aos padrinhos de O Pornographo, a
Catarina e o
Piotr, que o lançaram no mundo blogosférico (coitados, mal eles sabiam que ia dar nisto);
- às comentadoras indefectíveis, justine,
maria_árvore, mara tara e, em geral, a todos os que vêm aqui ilustrar-se e deixam, em troca, um sorriso pendurado no ar;
- ao compadre
Papo-Seco, and thank you also,
fluffy, for having given O Pornographo widespread, universal visibility;
- à Engenheira, minha chefe, que, sem o saber, subsidia O Pornographo em banda larga.
A todos, deixai-vos estar por aí, e não percais a paciência, pois continuareis a ser bastamente acrescentados, ao menos enquanto o pornographo tiver saúde e este emprego.
[91] A regulação da pornographia e a sua relatividade (e assim)
Como tudo o que é cultural, a pornographia não escapa à relatividade da lei.
Até agora, a minha investigação permitiu-me concluir que os antípodas pornographicos se encontram no Japão e no Reino Unido.
O Império do Sol Nascente faz questão de obrigar os produtores de imagens pornographicas a mascarar as áreas genitais através do chamado mosaico, como se a bola da bandeira tivesse de obscurecer o centro das atenções. Mas só isso: zoofilia, coprofilia e escatologia em geral, tudo é permitido sem limite - desde que se distorçam as áreas genitais. Alguns filmes obedecem à proibição tapando a vulva das actrizes com um adesivo e "restringindo" a acção à penetração anal, de que fornecem generosos e prolongados (e por vezes entediantes) planos. Outros produtores dedicam-se a filmar primorosamente a defecação de frágeis borboletas, retocando com cuidado extremo uma ou outra
frame onde tenha escapado, por inadvertência, a fugacidade de um lábio maroto.
Ao invés, o Império das Brumas nada tem contra a apresentação explícita dos órgãos genitais, embora seja uma liberdade muito recente, que terá feito dar voltas na tumba a Sir Philip Sidney. Depois de uma tormentosa relação com a pornographia durante séculos, a ilha de Sua Majestade vive hoje sob o lema
tits here, bums there, cocks and cunts everywhere. Não se sabe se a tese de Reiser - a libertação pornographica é socialmente positiva, porque
ocupa os violadores - virá a ganhar comprovação estatística. Seguro é que se acaba com a frustração que qualquer continental normal sentia ao deambular por uma
sex-shop inglesa em plenos anos 90. Viva a Europa!
Porém, a liberdade pornographica britânica tem um limite -
no feaces please: we're British. E essa é toda a lancinante história de Lucy and Ness (imaginai de onde vem este nome), duas certamente
very working-class girls, que tentaram fazer dinheiro com a exibição do mais básico que Deus lhes deu: o seu xixi e o seu cócó. Depois de alguns anos de êxito homérico, fecharam-lhes o
site. O problema não era o (escasso) conteúdo sexual-genital, igual a tantos outros
sites: era a indecência do xixi e do cócó.
Claro que isto levanta problemas teoréticos fabulosos, porque leva a requestionar o âmbito da pornographia. Nada garante que, por exemplo,
esta página não deva ser banida se se provar que induz excitação sexual no espectador (lá teríamos o
Papo-Seco a postar coisas
destas).
Estas disparidades são muito prejudiciais para o comércio internacional, e assim. A minha sugestão é: proibí apenas a representação dos sexos e dos cagalhões que vos pertencem, quando seja contra a vossa vontade. Fora disso, deixai trabalhar quem sabe.