[91] A regulação da pornographia e a sua relatividade (e assim)
Como tudo o que é cultural, a pornographia não escapa à relatividade da lei.
Até agora, a minha investigação permitiu-me concluir que os antípodas pornographicos se encontram no Japão e no Reino Unido.
O Império do Sol Nascente faz questão de obrigar os produtores de imagens pornographicas a mascarar as áreas genitais através do chamado mosaico, como se a bola da bandeira tivesse de obscurecer o centro das atenções. Mas só isso: zoofilia, coprofilia e escatologia em geral, tudo é permitido sem limite - desde que se distorçam as áreas genitais. Alguns filmes obedecem à proibição tapando a vulva das actrizes com um adesivo e "restringindo" a acção à penetração anal, de que fornecem generosos e prolongados (e por vezes entediantes) planos. Outros produtores dedicam-se a filmar primorosamente a defecação de frágeis borboletas, retocando com cuidado extremo uma ou outra
frame onde tenha escapado, por inadvertência, a fugacidade de um lábio maroto.
Ao invés, o Império das Brumas nada tem contra a apresentação explícita dos órgãos genitais, embora seja uma liberdade muito recente, que terá feito dar voltas na tumba a Sir Philip Sidney. Depois de uma tormentosa relação com a pornographia durante séculos, a ilha de Sua Majestade vive hoje sob o lema
tits here, bums there, cocks and cunts everywhere. Não se sabe se a tese de Reiser - a libertação pornographica é socialmente positiva, porque
ocupa os violadores - virá a ganhar comprovação estatística. Seguro é que se acaba com a frustração que qualquer continental normal sentia ao deambular por uma
sex-shop inglesa em plenos anos 90. Viva a Europa!
Porém, a liberdade pornographica britânica tem um limite -
no feaces please: we're British. E essa é toda a lancinante história de Lucy and Ness (imaginai de onde vem este nome), duas certamente
very working-class girls, que tentaram fazer dinheiro com a exibição do mais básico que Deus lhes deu: o seu xixi e o seu cócó. Depois de alguns anos de êxito homérico, fecharam-lhes o
site. O problema não era o (escasso) conteúdo sexual-genital, igual a tantos outros
sites: era a indecência do xixi e do cócó.
Claro que isto levanta problemas teoréticos fabulosos, porque leva a requestionar o âmbito da pornographia. Nada garante que, por exemplo,
esta página não deva ser banida se se provar que induz excitação sexual no espectador (lá teríamos o
Papo-Seco a postar coisas
destas).
Estas disparidades são muito prejudiciais para o comércio internacional, e assim. A minha sugestão é: proibí apenas a representação dos sexos e dos cagalhões que vos pertencem, quando seja contra a vossa vontade. Fora disso, deixai trabalhar quem sabe.