O Pornographo - um blog que não sai do corpo (fund. 2005)
[54] Momentos pornographicos de 2005 (em actualização)
A expressão e o riso de Sharon Stone no final do
anúncio do William Lawson's.
No rules (mesmo que não seja um grande
scotch).
As sextas-feiras no
Uma sandes de atum (que merecerão um post à parte).
[53] Esclarecimento: o rimming e o Oculto
Numa das
Notas do Pornographo, falei incidentalmente do
osculum obscenum. Alguns pediram-me um esclarecimento, se possível pictórico, do ritual. Lembrei-me então de uma gravura antiga, que tinha visto algures (talvez num livro do Milo Manara); procurei-a nos arquivos da
Cocanha, mas, algo surpreendentemente, não a encontrei.
Está
aqui, embora sem indicação da proveniência.
De nada.
[52] O Pai Natal existe!
Hoje passei a lembrar com rancor todos aqueles que, desde a mais tenra idade, me fizeram convencer da inexistência do Pai Natal.
Não que tenha recebido a rena que lhe pedi (provavelmente não pode atender todos os pedidos, sobretudo quando não são muito originais), mas o regresso ao escritório depois da folga de ontem ofereceu-me uma prova fulgurante da sua existência.
Então não é que a engenheira resolveu oferecer às funcionárias, pelo Natal, um soutien de
seda?! Tendes noção do que é um soutien de
seda?! E então não é que elas combinaram apresentar-se todas ao trabalho, hoje, com os respectivos soutiens vestidos?! E então não é que a temperatura ambiente do escritório começou a subir de repente, não só pelas ondas de ar tórrido que se desprendiam de mim, mas porque aumentei discretamente uns três ou quatro graus ao aquecimento?
Imaginais uma dúzia de mulheres, dos 20 aos 60 anos, entre o 30 AA e o 42 G, circulando por aqui o dia inteiro (nem fui almoçar), com um soutien de
seda sob a blusa?
A mim, a engenheira deu-me uma pequeníssima máquina fotográfica, tão pequena que até pensei, na sexta-feira, que era sovinice. É o que dá fazer juízos apressados sobre as pessoas.
Ora, eu hoje tinha trazido o brinquedinho para tirar uma fotografia à mesa onde trabalho e oferecê-la à minha senhoria, que me está sempre a pedir isso.
Já vêdes que o Pai Natal, não só existe, como é boa pessoa, pois proporcionou-me esta feliz coincidência, que, além do mais, me fez aprender a trabalhar com um electrodoméstico em tempo recorde.
Mas não me esqueci da foto para a minha senhoria. Agora tenho é a de a procurar, lá no meio, durante o próximo mês.
[51] Querido Pai Natal:
Sei, melhor do que muitos, o que a crise representa para as famílias: um dos primeiros sinais é a quebra nas vendas de
lingerie.
Sei que a crise atinge sobretudo os mais necessitados como tu, que andas todos os dias de todos os anos com a mesma roupinha encardida.
Sei também que ninguém te paga
royalties pelas cuequinhas vermelhas com pompom branco que surgem anualmente, por esta altura, nos nossos catálogos. Nem pelos
soutiens com leves barbas brancas a pender das barbas de baleia.
Mas se quisermos manter vivo o espírito de Natal, temos que partilhar. Por isso, em não te fazendo muita falta, podes deixar-me no sapatinho uma rena (deixo a porta da varanda aberta para não a sujares toda com a fuligem da chaminé; não tenho banheira, apenas um modesto polyban). Pelo andar da carruagem, dará muito jeito no fim de ano.
Se te fizer muita falta, deixa-ma só na manhã do dia 25, por empréstimo, e eu devolvo-ta no dia 24 de Dezembro do próximo ano, a tempo de cumprires os teus deveres. Por essa altura, já terei terminado a minha pesquisa. Não estrago.
[50] Quem porfia, não desiste
Nada melhor que o quinquagésimo post para vos informar que creio ter descoberto o título definitivo para este blog. Um blog que não sai do corpo. Nem eu faria melhor. Estou muito orgulhoso.
[49] Dos cuidados especiais requeridos pelas novas tecnologias (homenagem a M. H. Leiria)
Algumas pessoas que fazem o favor de ser minhas amigas enviam-me por vezes produtos e artefactos pornographicos para análise. Hoje chegou-me por e-mail, aqui ao escritório, um piqueno video cujo tema não interessa por aí além. Direi apenas que determinada senhora, sozinha em seu leito, ilustrava bem o tão português provérbio "não se pode meter o Rossio na Betesga".
Desgraçadamente, tinha-me esquecido das colunas de som do computador ligadas. E de repente, por entre os zumbidos constantes da dezena de mulheres que trabalham nesta sala e o matraquear dos teclados, explode,
imarcescível, um profundo "HAAAAA-VAAAAAA...". O mundo parou à minha volta e o meu coração com ele.
Felizmente, o meu sentido de oportunidade não me abandonou. Saltei da cadeira e comecei a entoar, acompanhando-a da respectiva dança, Haaaa-vaaaa, naguila haaaa-va, naguila hava, naguila venismecha, huru...".
Aproveitei o estado de choque generalizado (não sou nada de cantar em público, muito menos de dançar) e comecei a explicar-lhes quem foi Moshe Nathanson. Nada como uma boa história para sossegar as mulheres, sobretudo se meter poetas e artistas.
[48] As notas do Pornographo: A pornographia como impossibilidade de repetição
Por vezes vou almoçar com a Dona C., uma escriturária aqui da firma, a um tasco próximo. A Dona C. é bem entrada nos cinquenta, tem o aspecto de..., como dizer..., uma espécie de Maria Velho da Costa em versão mais desleixada. Por vezes usa carrapito.
Hoje fomos. A certa altura, no meio da minha sandes de carapaus de escabeche (ela pediu um rissol dentro de um pão), deixou cair, a propósito de um jornal aberto sobre a mesa ao lado:
"Sinceramente, não sei o que as pessoas vêem na pornographia. Se forem coisas eróticas, ainda vá, podem até ser bonitas, mas a pornographia... e depois, é sempre a mesma coisa".
Tive de dar dois goles compridos no meu galão para não me engasgar com os carapaus. Mal a pobre sabia que estava perante
O Pornographo; e mal ela sabia que naquela simples frase acabava de dar o mote para várias teses de doutoramento: a pornographia percebida como fenómeno exclusivamente visual; o clássico e fastidioso problema da "distinção" entre erotismo e pornographia (e a introdução do critério distintivo da "beleza"); e a
pornographia como repetição, logo, desinteressante.
Interessa-me esta última ideia, proposta, pela Dona C.: a pornographia é repetição; como tal, é desinteressante.
Temos que voltar uns 150 anos atrás, a um livrinho publicado por
Kierkegaard sob o pseudónimo de
Constantin Constantius, intitulado
Repetição, onde se nega a possibilidade da repetição. A única repetição, escrevia o "cabeça de queijo" (como era carinhosamente chamado pelos amigos), é a própria impossibilidade de repetição.
Por sob este aparente paradoxo (a impossibilidade de repetição não poderia, por definição, repetir-se), Kierkegaard expunha já uma linha de pensamento que muito nos auxiliará a compreender que a repetição da pornographia é apenas aparente, assim se explicando o persistente interesse dos pornósofos.
Quais meteoritos cegos pelo seu destino, passemos por cima de Freud e de Lacan e detenhamo-nos apenas em
Gilles Deleuze e na sua magistral
Différence et Répétition (1968).
Aplicando os ensinamentos do homem, ao dizermos que a pornographia é uma
repetição, apenas exibimos a nossa incapacidade de representar a diferença e a repetição sem ser por referência a uma
mesmidade pressuposta. Quer dizer: não conseguimos representar a "repetição complexa", onde se inclui a diferença, a dissemelhança, o disfarce, a variabilidade, e assim.
Por outras palavras: suponhamos uma gravura onde se figura uma bruxa prestando o
osculum obscenum. A generalidade dos cidadãos verá aí
diferença - e, portanto, interessar-se-á - por causa da singularidade do
motif representado.
Mas suponhamos agora um vulgar grande plano de uma cópula. Onde o homem (e, às vezes, a mulher) comum vê
repetição, por reconhecimento da
mesmidade trivial da representação, o pornósofo vê diferença - ou, se preferirmos, "repetição complexa" - porque lhe interessa, precisamente, o pormenor diferenciador (=individualizante). Um pêlo heterodoxo, uma ruga inédita, uma cor violeta insuspeitada ou um
êxtase irrepetível (não foi a captura desse instante que obcecou tantas gerações de pintores sacros?).
Percebeis agora a importância da diferença entre o
complexo de D. Juan e o
complexo de Casanova (não, evidentemente, no sentido que lhe deu certo meteco, cujo nome não é digno de figurar aqui). Como alguém (digno de figurar aqui, mas cujo nome de momento me escapa) já mostrou um dia, Casanova, na repetição ritual das suas façanhas, procura, em cada mulher,
A Mulher - isto é, a
mesmidade sob o acidente, por referência a um estereótipo pressuposto; ao invés, D. Juan procura sofregamente em cada mulher o
único, o
irrepetível - numa palavra, o
individual.
Obviamente, cada pornósofo tem, no seu código genético, um D. Juan. Só que D. Juan era um básico, porque nunca se libertou da carne.
Se um dia a Dona C. ler isto e me reconhecer, espero que saiba guardar segredo no escritório. Em contrapartida, nunca divulgarei o conteúdo da pasta "Temp" do seu computadorzinho.
[47] Última hora
O blog anteriormente conhecido por
Anarca Constipado foi tomado por um comando popperiano dirigido por um tal José Manuel Fonseca. Aos gritos de "Viva a sociedade aberta!" e "Já te curamos a tosse", os facinorosos
partisans instalaram-se no blog anteriormente conhecido por
Anarca Constipado e prometem substituir o constipez por uma linguagem mais cifrada, de forma a dificultar a vida aos iliteratos subversivos que por lá vagabundeavam.
Fontes não identificadas garantem que a comenda de Ganda Cavaleiro Pornographico, em tempos outorgada ao Anarca (e que tanto contribuiu para a
Aufklärung de tanta gente que passou a visitar-nos), foi confiscada para ser vendida num leilão a favor dos órfãos da "
transparent society"; alguns temem que seja substituída pela Ordem da Jarreteira.
Outros garantem que o Piotr Kropotkine foi visto a fugir do local, com a roupa em farrapos, escondendo a comenda dentro de uma caixa de Kleenex, e que passou à clandestinidade, algures na Serra da Malcata, onde já começou a organizar a resistência.
A situação é ainda confusa e
O Pornographo encontra-se reunido de emergência para avaliar o impacto do
blitz. Espera-se a todo o momento um comunicado formal sobre a posição deste blog sobre o golpe, a qual será certamente guiada pelo elevado sentido de oportunidade que usualmente nos inspira.
[46] Orgulho e preconceito
Um dos grandes motivos de orgulho de
O Pornographo é que ninguém chega a este blogue à procura de coisas
eróticas.
Mas é natural que se lembrem dele quando se defrontam e confrontam com
testículos electrificados.
[45] Sem título (mas com data)
Nasceu um blog chamado
BlogCafé que tem uma bela apresentação. Um pouco rudimentar, é certo, quando comparada, por exemplo, com a sofisticação e o requinte do nosso
template, mas agradável à vista, ao olfacto e ao paladar.
A propósito de
um post sobre memórias e a Vénus de Milo, pus-me aqui a especular sobre como seria interessante se a tal
Vénus pudesse escrever as suas memórias (ou mesmo, na falta dos bracinhos, ditá-las a alguém). É que é uma das poucas mulheres que não estavam anestesiadas quando lhe esculpiram os seios.
[44] Restauração da verdade: Je suis un voyou
Como se sabe, os franceses não tiveram nada que ver com a Restauração, e, portanto, não são um povo completamente mau. Em sua homenagem, fica um excerto do excelentemente pornographico poema de
Georges Brassens Je suis un voyou (com uma homenagem no título do blog ao outro grande Georges, o Wolinski, que completou anteontem 71 anos e 5 meses):
La mignonne allait aux vêpres
Se mettre à genoux,
Alors j'ai mordu ses lèvres
Pour savoir leur goût...
Elle m'a dit, d'un ton sévère :
" Qu'est-ce que tu fais là ? "
Mais elle m'a laissé faire,
Les filles c'est comme ça...
J'lui ai dit : " Par la madone,
Reste auprès de moi ! "
Le Bon Dieu me le pardonne
Mais chacun pour soi...
Qu'il me le pardonne ou non,
D'ailleurs, je m'en fous,
J'ai déjà mon âme en peine :
Je suis un voyou.
C'était une fille sage,
A " bouch', que veux tu ? "
J'ai croqué dans son corsage
Les fruits défendus...
Elle m'a dit d'un ton sévère :
" Qu'est-ce que tu fais là ? "
Mais elle m'a laissé faire,
Les filles c'est comme ça...
Puis j'ai déchiré sa robe,
Sans l'avoir voulu...
Le Bon Dieu me le pardonne
Je n'y tenais plus...
Qu'il me le pardonne ou non,
D'ailleurs, je m'en fous,
J'ai déjà mon âme en peine :
Je suis un voyou.
J'ai perdu la tramontane
En perdant Margot,
Qui épousa, contre son âme,
Un triste bigot...
Elle doit avoir à l'heure,
A l'heure qu'il est,
Deux ou trois marmots qui pleurent
Pour avoir leur lait...
Et, moi, j'ai tété leur mère
Longtemps avant eux...
Le Bon Dieu me le pardonne
J'étais amoureux !
Qu'il me le pardonne ou non,
D'ailleurs, je m'en fous,
J'ai déjà mon âme en peine :
Je suis un voyou.