O Pornographo - um blog que não sai do corpo (fund. 2005)
sábado, novembro 26
  [43] Tomai lá do pornographo!
O cérebro também come, mas convém não esquecer o corpo. Neste nostálgico fim de Outono, aqui vos deixo, para vos entreterdes no fim de semana, uma receita maravilhosa (para duas pessoas como eu): galinhola com arroz de cogumelos à Pornographo, dedicada à leitora Justine, que há tanto tempo prestigia este blog com a sua presença.

Tomai então meio quilo de cogumelos Portobello. Não vos punhais a catá-los nos bosques; não tanto por poderdes encontrar uns frades malandrotes dissimulados nos seus leitos de folhagens, à espera d@ incaut@ que lhes sacuda o cogumelo, mas porque certos fungos são mesmo muito ruins e liquefazem-vos o figadozinho em menos de um arroto de sogra. Podeis adquiri-los numa grande superfície, que as trocas estimulam o crescimento.
Lavai-os bem sob água corrente, por cima e por baixo, inclusive entre os folhos. Fatiai-os depois em lâminas tipo sabre (3 mm. de espessura) e afastai-os um pouco para o lado.
Pegai em duas cebolas noviças, em dois dentes de alho gorditos, picai-os. Ponde o azeite a estralejar e deitai para lá aquelas amarilidáceas e liliáceas malcheirosas. Vêde como se contorcem enquanto fregem... Bom. Concentrai-vos de novo no refogado. Deixai-as alourar até ao grau Ginger Lynn (se chegarem ao grau Shauna Grant, deitai tudo para o lixo e recomeçai; se passarem, em algum momento pelo grau Lisa de Leeuw, tendes nas mãos um fenómeno do Entroncamento: chamai imediatamente alguém do Guinness).
Nesse ponto, deitai para o tacho os cogumelos e salteai-os em lume vivo, mexendo de vez em quando para a gosma que se forma não colar ao fundo. Salgai com sal. Juntai uma dúzia de grãos de pimenta verde e o raminho de coentros que já devíeis ter previamente picado. Mexei de novo, sempre em lume esperto. Um golpe de Noval LBV 1998 (é importante ser LBV, porque dá mais corpo ao molho e ao aroma; o ano é, evidentemente, irrelevante). Deixai que se volatilize o que deve volatilizar-se. Passai a lume brando e tapai. O tacho.
Tomai agora uns quatro figos secos (dois pingo de mel e dois pescoço de dama) e cortai-os em pedacinhos. Disseminai-os graciosamente dentro do tacho. Tapai e esperai que apure, espreitando de quando em vez e remexendo o todo sempre que necessário.
Mais tarde ou mais cedo, os figos vão ceder e desfazer-se, largando o açúcar e as grainhas internas. É o momento de pordes o DVD em pausa, arrumar o bloco-notas e regressar ao fogão. Novo traço de Noval, lume vivo, evaporação rescendente, redução, lume brando outra vez. Podeis entoar o princípio de uma Kyrie, mas, se ouvirdes repentinamente a voz do Jorge Gabriel, não temais: foi o DVD que passou ao modo de hibernação e sempre aprendereis coisas importantes naquele concurso, do género qual é a extensão calculada do buraco de ozono, e assim.
Fritai então o arroz como mais vos aprouver, e juntai os cogumelos com seu molho quando deitardes a água (convém que o arroz fique húmido, sem que se torne porém malandro).
Depois cozinhai a galinhola (se não houver galinholas nos lugares onde habitais, usai a franga comum), comei bem, e brindai à minha saúde com um tinto condigno.
Bom fim de semana.
 
quinta-feira, novembro 24
  [42] Nem tudo é mau
Portugal é um país muito adverso ao espírito pornographico, já aqui o disse algumas vezes. Os portugueses raramente conseguem funcionar fora do binómio Cartilha Maternal / a puta da tua mãe; quer dizer: oscilam permanentemente entre a infantilidade e a obscenidade. Sempre sem imaginação.
Vejam-se, por exemplo, as traduções dos títulos dos filmes porno estrangeiros. O engraçadíssimo In and Out of Africa foi traduzido por um paupérrimo África Minha Sexual. Para o genial Rainwoman não acharam melhor do que Molhada de Prazer, quando podia muito bem chamar-se A Fonte do Trevo, ou assim.
Mas há excepções à falta de espírito pornographico. Uma delas acaba de me chegar às mãos: a Novíssima Cartilha Ilustrada, de Pedro Monteiro e Rodrigo Monteiro, com ilustrações de Rui Cardoso, um "produto não recomendado pelo Estado Português", que acaba de completar o seu primeiro aniversário nas bancas.
Veja-se, por exemplo, a página da letra "G": "O Gama gosta de fisgas e os grampos da fisga do Gama gostam das nádegas gordas da Graciete"; ou da letra "H": "A Hortência tem herpes. Herdou-o.".
Obrigado.
 
quarta-feira, novembro 16
  [41] Discipline and restraint
Soube pelo 100nada que se criou uma Entidade Reguladora que também vai "supervisionar" e "intervir" naquilo a que vulgarmente chamamos os blogs.
Sempre desejei ser "supervisionado" e "intervencionado", mas temo que O Pornographo (quer dizer, este blog) não reúna as condições necessárias para o efeito.
O Pornographo não é uma "pessoa singular", nem uma "pessoa colectiva". É uma agregação aleatória de mentes sintonizadas, que se juntam repentinamente num ponto imaginário do espaço sideral, daí resultando, por combustão espontânea, algumas ideias pornographicas.
A função de O Pornographo não é "disponibilizar" "conteúdos", mas sim propor formas que se expandem e modificam a uma velocidade superior à da luz, ao ritmo dos conteúdos que cada um lhes quer dar. E, de qualquer maneira, não se pode dizer que o faça "regularmente".
O Pornographo não tem algo que se possa chamar, com propriedade, um "público". É um blog muito recatado, para não dizer exclusivista.
A única coisa que me pode salvar - isto é: justificar a "supervisão" e a "intervenção" - é a parte final da lei: tudo o que aqui se escreve é submetido a rigoroso "tratamento editorial" (como se depreende logo da complexidade do template) e, principalmente, tudo é "organizado como um todo coerente". Perdoai-me a imodéstia, mas o segundo blog mais coerente do mundo está para O Pornographo como os seios da Charlotte Rampling estão para os da Lolo Ferrari.
 
terça-feira, novembro 15
  [40] O Pornographo chega às elites!
Ontem à noite, num programa de televisão, Pedro Boucherie Mendes (um nome estranho, mas que não me é estranho) afirmou, sem contemplações, que é difícil escrever pornographia em português.
Sensibilizado, agradeço o elogio e o respeito pela discrição que sempre pedi para este blog. Em meu nome, e dos outros 20 que por aqui se enlanguescem diariamente.
 
sexta-feira, novembro 11
  [39] As leituras dos nossos jovens
Uma das coisas que deveria preocupar muito os pais e os educadores são as leituras dos nossos jovens. Já que a Internet intelectualmente estimulante (como este blog) não é para todos, é importante assegurar que os meios tradicionais de difusão cultural - os livros - sejam aptos a fazer crescer as meninges dos infantes.
Ora há leituras muito prejudiciais, mesmo que fornecidas com boa intenção.
Lembro-me que, aí pelos meus doze anos, andava eu entretido com a Venus Erotica da Anaïs Nin, na versão original, desenvolvendo exponencialmente o meu francês às escondidas, quando os meus progenitores me apresentaram algumas obras para o fortalecimento da minha cultura.
A primeira teve efeitos desastrosos. Intitulava-se O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, e, embora tivesse ligeiro potencial pornographico, submergiu-me numa depressão tal que, se não tivesse sido remediada, poderia ter-me levado a uma vida de devassidão tristonha: imagino-me sacerdote emigrado num país da América Latina, pregando uma teologia da libertação inspirada nos livros do Anquetil.
Felizmente, as restantes obras reaceleraram imediatamente o meu espírito pornographico e devolveram-me ao meu verdadeiro ser: li, num ápice, em dias e noites quase febris, a trilogia da Condessa de Ségur (née Sophie Rostopchine): Les Malheurs de Sophie, Les Petites Filles Modèles e Les Vacances. Profundamente influenciada pela sua infância moscovita e pela sua condição de filha de um general, a Condessa introduziu-me no mundo maravilhoso da recompensa e do castigo (a fessée descrita com pormenor e vividez, o cativeiro com isolamento), iluminou-me sobre a complexa relação entre madrasta (a perversa Mme. Fichini) e enteada, enfim, revelou-me o mundo diáfano e delicadíssimo do tribadismo juvenil, tão mais delicioso quanto apenas insinuado ("[Sophie] se souvint en même temps que les cheveux de Camille frisaient mieux quand ils étaient mouillés. 'Si je mouillais les miens, dit-elle, ils friseraient peut-être!' ").
Sem ela, não seria certamente o que sou hoje. Por isso te digo, jovem: não recuses sem mais o que os teus pais te dão a ler. Lê, examina, reflecte, e um dia poderás ser um pornographo.
 
quinta-feira, novembro 10
  [38] Sim, eu sei...
... meus amigos, que vos tenho descurado nos últimos tempos. Se isso ajudasse, até era capaz de escrever aqui um palavrão, assim, sei lá, foda-se, só para que não vos sentísseis sozinhos e desmaparados.
A verdade é que nos últimos dias a minha vida levou uma volta de 720º, pois sou suspeito de utilizar material da empresa para fins pessoais. A engenheira já abundou em meu favor, mas eu não sei. Já tive muitas dores de cabeça por causa desse processo disciplinar, e despesas: acabei por comprar o mísero computador de onde vos escrevo agora.
Aos que têm voltado, com paciência de Job, só posso agradecer a visita e prometer a re-erecção do blog muito rapidamente, mesmo que tenha de mobilizar recursos próprios (no outro dia fui ao circo com as filhas de uma vizinha e deparei com uma tapir fêmea no cio, assediada por um chimpanzé transtornado [e quem não ficaria?]; esbocei logo um texto muito duro sobre a inexistência de subsídios estatais para quem queira dedicar-se à captação desses momentos).
Mil anos de vida gloriosa, deste vosso
O pornographo
 
quinta-feira, novembro 3
  [37] Diamonds are forever
Estava eu em relativa paz a ler, do médico D. T. Bienville, La Nymphomanie, ou Traité de la Fureur Utérine (1ª ed. 1771; ed. de 1789 [Londres] disponível aqui por 150.00 euros; interessante análise crítica aqui), quando fui sobressaltado por violenta rabanada de vento, que associei de imediato aos tornados e furacões que vêm assolando as costas de tanta gente.
A rara coincidência bastou para que lembrasse, não sem saudade, a voracíssima Debi Diamond, essa força da natureza - que digo eu? - esse fenómeno sobrenatural que nos deixou de cabelos em pé no início da década de 90. [N. B.: não confundir a nossa diva com a patética Debbie Diamond, vocalista dos obscuros Januaries, grupo que alguém definiu, apropriadamente, como "Brigitte Bardot meets the Doors". A grandessíssima invejosa alega ter tido o seu nome roubado. Risível].
Quem viu, não poderá esquecer a personificação perfeita da ninfómana insaciável, cujas performances chegavam a - confessemo-lo - atemorizar o macho mais confiante. Californiana, compensava o rosto desinteressante (muito all american girl) com o gosto pela representação, auxiliada por uma capacidade atlética invejável.
Por cada aparição no écran, sentíamos que a tecnologia era curta e sonhávamos com filmes a três dimensões, mecanismos de vento que simulassem ofegações, telas gigantes que a abarcassem inteira, em todas as posições. Definitivamente, depois de Debi, secar alguém ganhou outro significado.
Os números são tão alucinantes como ela: 400 filmes originais em 18 anos. Dá mais de 20 filmes por ano, ou seja, quase dois filmes por mês. Fora os ensaios e o tempo para decorar os diálogos.
Em 1998, com apenas 36 anos, aposentou-se, deixando vazio um lugar que não foi preenchido até hoje. Dizem-me que tem uma fundação para as árvores. Deve ser vê-las crescer.
 
  • "Não digais: «Dá três sem a tirar». Dizei: «É um simplório»" (Pierre Louÿs, Manual de Civilidade para Meninas)
  • "«Irei pelos penhascos» - disse ele, saindo da gruta" (Lobsang Rampa, O Eremita)
  • "This time we go sublime" (Frankie Goes to Hollywood)
  • APRESENTAÇÃO
    EU É QUE SOU O PORNOGRAPHO
    100 nada
    A Causa Foi Modificada
    A funda São
    A Loira Não Gosta de Mim
    A Natureza do Mal
    Albergue dos Danados
    Almocreve das Petas
    Anarca, aka Ganda Cavaleiro Pornographico
    Avatares de um Desejo
    Azul Cobalto
    ...Blogo Existo
    Bombyx-Mori
    Chez Maria
    Cocanha
    Diário da República
    Estes Momentos
    FFFamel ZZZundap
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