[39] As leituras dos nossos jovens
Uma das coisas que deveria preocupar muito os pais e os educadores são as leituras dos nossos jovens. Já que a Internet intelectualmente estimulante (como este blog) não é para todos, é importante assegurar que os meios tradicionais de difusão cultural - os livros - sejam aptos a fazer crescer as meninges dos infantes.
Ora há leituras muito prejudiciais, mesmo que fornecidas com boa intenção.
Lembro-me que, aí pelos meus doze anos, andava eu entretido com a
Venus Erotica da Anaïs Nin, na versão original, desenvolvendo exponencialmente o meu francês às escondidas, quando os meus progenitores me apresentaram algumas obras para o fortalecimento da minha cultura.
A primeira teve efeitos desastrosos. Intitulava-se
O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, e, embora tivesse ligeiro potencial pornographico, submergiu-me numa depressão tal que, se não tivesse sido remediada, poderia ter-me levado a uma vida de devassidão tristonha: imagino-me sacerdote emigrado num país da América Latina, pregando uma teologia da libertação inspirada nos livros do Anquetil.
Felizmente, as restantes obras reaceleraram imediatamente o meu espírito pornographico e devolveram-me ao meu verdadeiro ser: li, num ápice, em dias e noites quase febris, a trilogia da
Condessa de Ségur (
née Sophie Rostopchine):
Les Malheurs de Sophie,
Les Petites Filles Modèles e
Les Vacances. Profundamente influenciada pela sua infância moscovita e pela sua condição de filha de um general, a Condessa introduziu-me no mundo maravilhoso da recompensa e do castigo (a
fessée descrita com pormenor e vividez, o cativeiro com isolamento), iluminou-me sobre a complexa relação entre madrasta (a perversa Mme. Fichini) e enteada, enfim, revelou-me o mundo diáfano e delicadíssimo do tribadismo juvenil, tão mais delicioso quanto apenas insinuado ("
[Sophie] se souvint en même temps que les cheveux de Camille frisaient mieux quand ils étaient mouillés. 'Si je mouillais les miens, dit-elle, ils friseraient peut-être!' ").
Sem ela, não seria certamente o que sou hoje. Por isso te digo, jovem: não recuses sem mais o que os teus pais te dão a ler. Lê, examina, reflecte, e um dia poderás ser um pornographo.