[6] Digo-vos: o post que virá a seguir a este é o mais importante que O Pornographo conhecerá. Apetecia-me escrevê-lo já, mas decidi reservar-lhe o número [7]. Os números são muito importantes para um escriturário.
Neste número [6] limitar-me-ei a deixar cair algumas banalidades.
A maior parte dos especialistas em cultura geral, e assim, concorda em que a generalidade das coisas do mundo, sobretudo as artes, são sucedâneos pobres da pornographia. São uns
quases. Por razões diversas, que a seu tempo examinaremos, arredamo-nos e somos arredados da
emoção pornographica, contentando-nos com
emoções comuns [
»4].
Deliciamo-nos com Herberto Hélder porque não lemos
As Filhas do Feitor. Extasiamo-nos com a janela do Convento de Tomar porque não prestámos a devida atenção aos potentes rabos graníticos das ruas de Miranda do Douro e da Igreja de Algosinho. Dissertamos sobre
Lili Marleen porque ignorámos a Marlene de
Les Putes et les Soldats (2).
Às vezes, a
emoção pornographica - sempre a querer vir, por assim dizer, ao de cima - converte-se em
emoção comum e impele-nos a admirar a
sensualidade de Natália Correia, o
ritmo de Bocage, a
edição de Pasolini, a
genialidade de Prince, a
crueza de Paula Rego. Tretas. A
emoção pornographica é um ente ôntico e não vale a pena tentar desfazer essa pequena bolha de azeite na água fraca de que somos feitos.