[29] É importante perceber que a
emoção pornographica é distinta do impulso sexual, embora possam andar, por assim dizer, empernados.
A emoção pornographica centra-se na própria representação, na figuração em si mesma, independentemente do conteúdo figurado e da sua eventual carga sexual.
Eu tinha para aí dez anos quando fui assaltado pela minha primeira emoção pornographica. Estava fora de Portugal, num país onde a TV pública podia transmitir "O carteiro toca sempre duas vezes". Eis senão quando apareceu a Lana Turner, ou melhor, as pernas da Lana Turner*. Um nunca acabar de pernas entre os sapatos e os calções. Eu, que sexualizava as pernas femininas através dos apalpões à falsa fé por baixo das saias das minhas queridas colegas, emocionei-me subitamente com um facto simplicíssimo: se as pernas de uma mulher podem ser
representadas assim, é porque não servem só para andar e ser apalpadas. O futuro haveria de me dar razão.
Por outro lado, conheço casos de pessoas que sentem excitação sexual com a limpeza dos interiores dos seus automóveis e, até, com o preenchimento de um POC. Não podemos admitir, de maneira alguma, que essas sejam emoções pornographicas.
Em conclusão, avançaremos com segurança: nem toda a emoção pornographica deriva de um impulso sexual, nem todo o impulso sexual supõe uma emoção pornographica.
*Curiosamente, nunca me tornei num
lanatic.