[105] Da água com melão (título propositadamente nojento)
Já deveis andar admirados de eu ainda não ter reflectido sobre a publicidade da Pedras Salgadas - Melão (sim, aquela com a cena da senhora na praia, a fazer oscilações de seios ao ritmo daquele jogo perigosíssimo - atenção homens: nunca jogar aquilo com os braços para baixo, e eu sei do que falo - cujo nome não me ocorre).
Pois bem: digo-vos que o anúncio é muito adequado ao produto. Ambos são símbolos de uma sociedade que teima em dissipar os seus valores e prejudicar a sua tradição. A Água das Pedras é (era?) uma instituição vetusta e respeitável, e não pode ser senão gasosa, sulfurosa e salgada. Tem por única missão apaziguar o estômago e ressuscitar o epitélio da língua nas manhãs de vista enevoada. E fazer arrotar a lampreia, sendo época dela.
Quebrando-se esta lei de bronze, e
inquinando-a com sabor a frutos (neste caso, uma dupla infelicidade, pois todos sabem que a água está para o melão como o leite para o camarão), não admira que surjam os trocadilhos
pénibles de mamas e melões. Já agora, por que não um filminho com a Bibi Andersson com duas cápsulas de Pedras Salgadas - Melão a ocultar-lhe os mamilos? Hã? Ou, em versão pós-moderna, um outdoor com uma fotografia de uma garrafa de Pedras Salgadas - Melão ao lado de um tubinho
destes?
As Pedras Salgadas não podem ter outra publicidade que não a apresentação da garrafa, em seu verde perverso e com seu rótulo antiquado. Ou, quando muito, um diálogo surrealista entre dois homens que vêm de um festim de torresmos ("Que horas são? São Pedras Salgadas em ponto!").
De positivo, portanto, só essa consistência entre a imagem e o produto. Assim ninguém compra ao engano. Nisso as águas são muito boas: sempre admirei a frontalidade da horrível Carvalhelhos, que tem mais gás que matéria, a fazer-se representar por um ancião inglês.