[119] Nada é o que parece
Desenganai-vos se pensais que o facto de viver sozinho vos permite ressonar sem sofrer as impertinências de terceiros. Na semana passada, as colegas aqui do escritório apresentaram-me um abaixo-assinado informal (quer dizer, sem papéis, tudo assinado de língua) onde diziam que me tinham marcado um roncopata.
Eu, prestimoso, alinhei logo, na convicção serena de que se tratava de uma batida ao javali. Mesmo sem espingarda, conheço as maravilhas de que o meu canivete suíço é capaz.
Só percebi que me queriam tolher o ressonanço quando cheguei ao endereço indicado, em pleno centro da cidade.
Queriam-me a dormir lá uma noite, e, ao fim de escassas duas horas, chegámos a um acordo satisfatório para ambas as partes: era importante, para o teste, que eu tivesse uma noite normal antes de sucumbir aos braços de Morfeu. Puseram-me num quarto insonorizado, sem gente à volta, com um monitor 21" (mas tive de levar a minha própria garrafinha de
irish).
Pois não é que hoje, na consulta de "análise" dos meus resultados roncopáticos, o prático me começa a falar dos meus "seios nasais"? SEIOS NASAIS?! Vivo eu, há mais de quatro décadas, a tirar escarafunchosamente catotas do nariz e nunca dei com tal coisa? E, mais importante do que tudo, haverá mamilos nasais? E qual é o risco de um estado de excitação sexual conduzir à tumefacção dos mamilos nasais e um gajo asfixiar? Hã?
Enfim, perguntei ao prático se não era possível produzir uma imagem dos meus seios nasais. Ele assentiu, sem problema - até ao momento em que eu sugeri que fosse num dia de Inverno, porque gosto deles
arrepiadinhos.