[133] Jantares de Natal do escritório, e assim
Esta coisa dos jantares de Natal de escritório é sempre uma caixinha de surpresas. Suponho que, nos casos normais, o pessoal aproveite para descarregar umas tensões, insultando ou enrolando-se, conforme a disposição, com @ coleg@ que trouxe debaixo de olho durante o ano. No meu anormal caso, sozinho no meio das penas e penugens perfumadas de uma dúzia de aves raras, é um momento odioso.
Não contarei os pormenores daquele jantar de Natal em que a mesa do lado, composta por oito rapazes folgazões, me perguntou a certa altura se eu ia ser vítima de um gang-bang feminino. Nem os do ano anterior, quando as minhas colegas deliberaram (por maioria esmagadora) que o jantar seria pago por quem não tivesse "tomates" para tirar as "cuequinhas" e pô-las em cima do guardanapo. Até acabou por me sair barato, pois amealhei um pequeno pecúlio com a venda, a coleccionadores particulares, das fotos sacadas em segredo, debaixo da mesa, pela minha micro-câmara. Guardo os originais, parece um portfolio de cabeleireiro: desde a skinhead Dona L. (quem diria...!) à Gloria Gaynor da assessora, passando pela garçonnette da Engenheira (era adivinhável) e o modelo "Rita Hayworth" da Dona J. (não é
suculenta, mas é pintada de ruivo).
No jantar deste ano, calhou-me ouvir confidências íntimas. À terceira CR&F, segredava-me a F., oxigenada polposa: "De há duas semanas para cá sonho todas as noites com um pénis. Ando preocupada, porque deixei de fumar quando me separei do meu namorado. Será que vou voltar ao cigarro?"
E eu, compenetradíssimo nela, tive de responder: "Talvez não, F. Às vezes, um pénis é só um pénis".