[88] As revoluções pornographicas (II)
A pergunta que lancei
aqui mereceu a mesma resposta por parte do grande
Animal, um
habitué de O Pornographo, lugar cativo na fila D, lugar 2 (primeira fila com perspectiva olho de peixe sobre o écran), e da
laddy C: Linda Lovelace / Garganta Funda. Sim, essa foi uma das revoluções pornographicas, porque democratizou o XXX. Mas é mais conhecida do que a Francesa (XVIII) e já foi
aqui explorada, por assim dizer, até ao esófago.
Em tempos expliquei que a evolução da pornographia está indissoluvelmente ligada ao desenvolvimento tecnológico, respirando ao ritmo da inovação das possibilidades de
representação. Depois da possibilidade de fixação da cena pornographica em suportes cada vez mais acessíveis e portáteis (impressão), cada vez mais realistas (fotografia e cinema) e susceptíveis de reprodução (ambos os três), a pornographia
profissionalizou-se. Escritores, modelos, actores e actrizes, fotógrafos e realizadores, editores e produtores, assistentes-de-aparamento-da-pintelheira, enfim, toda uma corporação que passou a viver da pornographia.
Como em tudo, isso foi bom e foi mau. A empresarialização trouxe competição e, portanto, criatividade: a representação pornographica das chamadas "parafilias" foi-se tornando cada vez menos rara e surgiram os primeiros filmes com anões. Mas trouxe também a inevitável hamburguerização da arte, levando à multiplicação nauseante do
lixo pornográfico, que só nos altera a respiração no caso de ressonarmos.
No fim dos anos 80, aquilo que podemos chamar de
modelo Gina-Color Climax estava a esgotar-se (apesar do desenvolvimento de certos nichos: isso fica para outra vez). O povo andava triste. Na generalidade dos países, decrescia o tesão pelo aluguer de vídeos que, lentamente, tinha asfixiado os cinemas: claro que o tamanho da imagem importa. Mas era tarde demais: os cinemas já tinham fechado, e as revistas
Gina-like tinham-se tornado em subprodutos.
Não tardava muito para que alguém anunciasse o fim da História. O nosso sobrolho carregava-se e, curiosamente, regressávamos ao Sade, ao Restif, ao Apollinaire, aos anónimos ingleses do séc. XIX, e assim, mas sem grande convicção. Eis senão quando... (
continua)
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