O Pornographo - um blog que não sai do corpo (fund. 2005)
[32] Quando abuso um bocadito de substâncias controladas, páro e penso: não podemos excluir definitivamente a possibilidade de a redenção se ganhar pela castidade.
Perceber que posso pensar assim é um bom incentivo para largar os vícios.
[31] Do clitoris sem acentos, ou de como os erros ortográficos podem ter fundamentos semióticos
Muito se tem escrito sobre esse admirável centro de uma larga fatia da sexualidade humana (a heterossexualidade e a homossexualidade feminina). Mas, geralmente, com pouco cuidado, sobretudo no plano semiótico. Não se pode falar ainda de um
estado de catástrofe, mas já é preocupante.
Às vezes perguntam-me se se escreve clítoris ou clitóris, ou se as duas grafias são admissíveis. A esses respondo: nada disso.
Clítoris é manifestamente errado, pois é uma palavra grave. Daí, também, que não precise de acentuação no "o". Nem clítoris, nem clitóris: simplesmente clitoris, com a sílaba tónica no "o".
Mas o povo sabe mais que os linguistas, e a língua do povo tem um saber de experiência feito. É que há clitoris e clitoris. E essa diferença na realidade designada foi-se acobertando debaixo de uma diferença fonética - os "clítoris" e os "clitóris" - que por sua vez ganhou dimensão ortográfica.
Quando dizemos "clítoris", quem não se lembra imediatamente do clíname de Richard? Algo de delicado, pequeno, escondido e insuspeitado no coração de uma flor, que só vê a luz do dia através de cuidadosa manipulação.
Porém, ninguém no seu perfeito juízo diria "clítoris" para se referir ao clitoris de Lotta Topp ou da fabulosa Linda Might, para já não falar da anabolizada Denise Massino. Aí, é preciso dizer "clitóris". Pletórico. Feérico. Homérico. Ou, melhor ainda, usar o também correcto
clitóride, que evita o ciciamento recatado do "s" final e obriga, muito apropriadamente, a empregar a linguodental "d".
Em conclusão: admitam-se as duas fonéticas, desde que utilizadas conscientemente para distinguir os clitoris proparoxítonos dos clitoris paroxítonos.
E a propósito: ouvi no outro dia uma senhora psico-sexóloga, num programa da TVI (a antiga televisão da Igreja) chamado AB...Sexo, por sinal muito broxante, afirmar que "o clitoris tem, em média, o tamanho de uma ervilha". Fiz já uma investigação sumária das marcas de ervilhas congeladas disponíveis no mercado e posso dizer que tenho fundadas dúvidas sobre a validade de tal afirmação. A não ser que só lhe tenham calhado no consultório clientes paroxítonas. Abençoada.
[30] Este blog não comenta a chamada "actualidade", porque não se entretém - nunca é demais dizê-lo - com o lixo pornográfico. Mas anda para aí uma maré de moralismo e de denúncias avulsas que são um bom intróito para comentar o evento do mês, quiçá do ano.
Como sabeis, os americanos também chamam aos chibos "deep throats". Pois é: 33 anos passados sobre a estreia desse ícone fundante da pornographia americana moderna, foi lançado no último dia 20 o documentário
Inside Deep Throat, imprescindível para qualquer pornographo verdadeiro.
Na altura, os moralistas estavam do lado oposto ao de
Deep Throat e tiveram uma pequena vitória: Harry Reems foi condenado a 5 anos de prisão pela sua participação no filme, dos quais chegou a cumprir um ano.
Naturalmente, as vitórias deste género são sempre efémeras: hoje,
Deep Throat é considerado um filme seminal, Harry Reems é famoso de Long Island até Irkutsk (passando por Pombal) e ninguém se lembra do nome do juiz que o condenou.
[29] É importante perceber que a
emoção pornographica é distinta do impulso sexual, embora possam andar, por assim dizer, empernados.
A emoção pornographica centra-se na própria representação, na figuração em si mesma, independentemente do conteúdo figurado e da sua eventual carga sexual.
Eu tinha para aí dez anos quando fui assaltado pela minha primeira emoção pornographica. Estava fora de Portugal, num país onde a TV pública podia transmitir "O carteiro toca sempre duas vezes". Eis senão quando apareceu a Lana Turner, ou melhor, as pernas da Lana Turner*. Um nunca acabar de pernas entre os sapatos e os calções. Eu, que sexualizava as pernas femininas através dos apalpões à falsa fé por baixo das saias das minhas queridas colegas, emocionei-me subitamente com um facto simplicíssimo: se as pernas de uma mulher podem ser
representadas assim, é porque não servem só para andar e ser apalpadas. O futuro haveria de me dar razão.
Por outro lado, conheço casos de pessoas que sentem excitação sexual com a limpeza dos interiores dos seus automóveis e, até, com o preenchimento de um POC. Não podemos admitir, de maneira alguma, que essas sejam emoções pornographicas.
Em conclusão, avançaremos com segurança: nem toda a emoção pornographica deriva de um impulso sexual, nem todo o impulso sexual supõe uma emoção pornographica.
*Curiosamente, nunca me tornei num
lanatic.
[28] Alguém sabe quem é esse tal de Bobby
gay, que está a causar tanta polémica? Espero que não seja nada aos Kennedys, coitados. Já passaram por tanta coisa, só lhes faltava essa.
[27] Às vezes, a engenheira, quando está bem disposta, chama-me lá de cima: "ó vibratex, venha cá!". E ela e a secretária riem-se muito, baixinho.
Eu apareço, alvo e cândido, como se não percebesse. Assim, somos felizes os três.
[26] Eia. Estou atordoado com tanta visita. Entrem, façam o favor, sintam-se à vontade, e assim, só não sei se esta sopinha de grelos chega para todos, mas é de boa vontade.
Quando olhei para esta súbita erecção do sitemeter, muito acima da vintena de epicuristas que costuma rondar por aqui, ainda pensei: queres ver que algum maduro pôs a passar no blog uma versão remasterizada do
Ten Little Maidens e eu não dei por nada?
Mas não. Foram
uns espirros do anarca, lá na casa dele. Já foi o primeiro a exibir o Pornographo, logo no primeiro post, e agora decido atribuir-lhe, por unanimidade, o título de Ganda Cavaleiro Pornographico.
[25] Gosto sempre de ver a Fátima. É boa
pivot. Mas está a passar ao lado de uma grande carreira.
[24] Ao contrário do que já terá certamente perpassado pelas vossas cabecinhas fantasiosas, eu não estudei contabilidade por causa das conotações de termos como "activo e passivo", "activo circulante", "passivo a descoberto", ou dos mais subtis "balancete", "grossista" e "retalho".
Estudei contabilidade porque ser poeta é um bocado secante. Felizmente, tive a coragem de assumir as minhas preferências. Muitos há que não conseguem dominar a sua pulsão contabilística mas têm vergonha de a expor publicamente. Veja-se, por exemplo, o grande Herberto Hélder, que trabalha em segredo, gratuitamente, para duas empresas de contabilidade e uma firma de auditoria financeira - com três pseudónimos diferentes!!!
Isso não é para o meu feitio.
De passagem, este post serve também para pedir aos senhores jornalistas que pretendem entrevistar-me o encarecido favor de não me fornicarem o juízo com perguntas do tipo "considera-se o novo Fernando Pessoa?". Obrigado.
[23] Durante muito tempo, atormentou-me um enigma aflitivo (enfim, não me atormentou, é uma maneira de falar, não pensava nele todos os dias; mas inquietou-me o suficiente para me lembrar dele agora, como diria o Grande Cana Rachada).
Os mais velhos lembrar-se-ão do grande entusiasmo (aliás exagerado, um dia falaremos disso) com a pornographia nórdica a partir da década de 70. Ele eram as suecas esculturais, as norueguesas rurais, as dinamarquesas que gostavam de animais, e assim. Mas nunca se ouviu falar de pornographia
finlandesa.
Porquê?
O
mercado de arenque, em Helsínquia, não terá, acaso, potencialidades?
A
expertise fotográfica dos habitantes de Tampere não poderia ser aproveitada?
A história de Welid Mohammed, o etíope que foi viver para Espoo, onde casou com uma finlandesa, e que mata as saudades de casa nas saunas locais, não faz crescer água na boca ao pornographo menos criativo?
Imaginam o que serão as CFFs no
campus universitário de Turku, com 30.000 estudantes e um Inverno de 6-7 meses?
E que dizer da inter-racial cidade de
Vantaa?
E os gelos imensos do Norte, salpicados de
igloos onde dormem grupos todos nús?
E a inexplorada sexualidade dos lapões e das laponas, com seus arpões e suas magníficas peles de foca, perfeita para registos étnicos originais?
E os misteriosos alces?
E...
Alcançais agora a perplexidade que me atazanava.
Só que um dia pensei na desinteressante Suíça, cercada por alguns dos maiores potentados pornographicos europeus (França, Itália e Alemanha), que também nunca gerou produto pornographico assinalável. E percebi: tanto a Finlândia como a Suíça são países neutrais.
Primeira lei d'O Pornographo: a neutralidade é incompatível com o espírito pornographico. Claro.
[22] Alguns sustentam que a pornographia é um dos últimos redutos da sociedade de dominação tradicional. A esses digo: sois umas abéculas.
A pornographia é o mais poderoso meio de libertação e, nesse sentido, autenticamente
revolucionário. Não é por acaso que todos os regimes autoritários levaram muito a sério a repressão da expressão pornographica, ao passo que as sociedades democráticas favoreceram a sua liberalização. No plano filogenético, também não é por acaso que nas sociedades ditas primitivas, onde o indivíduo não se auto-representa como ente autónomo, a expressão pornographica é diminuta e não-evolutiva.
Claro que há fenómenos de exploração na produção pornographica - mas não os há em todas as relações de produção, em qualquer sistema de trocas? Claro que por vezes a pornographia implica a reificação de pessoas - mas que dizer dos próprios processos eleitorais, que transformam os cidadãos em portadores de votos?
Mais: numa sociedade onde não existe outro nexo entre os homens que não o "
naked self-interest and callous cash payment" de que falava o famoso liberal do século XIX, a pornographia pode reivindicar-se como um dos poucos domínios da acção humana onde se produz e se estuda genuinamente
pro bono - veja-se, a título de exemplo, este vosso humilde blog.
A outra vertente do discurso da dominação é a da anti-falocracia, dos problemas do género, e assim. Mas, neste momento, nenhum de nós está preparado para reflectir sobre isso. Lá chegaremos.
[21] Tinha uma vaga lembrança de que 1997 havia sido um ano particularmente positivo. Ontem percebi porquê: foi o ano em que comprei a box de três cassettes VHS editadas em Espanha com o nome
Nuestros Picaros Abuelos, onde se reúnem vários pequenos filmes pornographicos realizados entre 1910 e 1940, na sua maioria franceses e alemães. Um must para quem gosta de
erotica antiga. Os espanhóis são muito bons a fazer compilações do que os outros produzem.
[20]
FPF-GT [
»12]:
A Flacidez de Lídia à Beira Rio.
Fantasia sobre uma camponesa obesa seduzida por um indivíduo magrinho num lameiro ao pé do Cávado.
Ambos usam meias até ao joelho, seguras por ligas. Depois de 85 minutos de tentativas, rendem-se à impossibilidade da consumação, enlaçam as mãos e o magrela convence a gorda de que não vale a pena cansarem-se (desenlaçam as mãos). Sentam-se nus entre as urtigas e olham, pensativos, para o rio que corre.
Sequência final: grande plano das nádegas imensas da camponesa, vermelhas das picadas das urtigas.